O Programa A.A.
Procurar Assistência Especializada
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Provavelmente, todo alcoólico recuperado já precisou e já procurou assistência especializada que não a oferecida pelo A.A. Por exemplo, os dois primeiros membros do A.A., seus co-fundadores, tiveram necessidade e se valeram da ajuda de médicos, hospitais e religiosos.
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Assim que começamos a permanecer sóbrios muitos problemas parecem desaparecer. Mas persistem (ou surgem) outros que realmente exigem atenção profissional especializada, como a de um obstetra, de um pedicuro, de um advogado, de um especialista em tórax, de um dentista, de um dermatologista ou de um conselheiro psicólogo.
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Como o A.A. não oferece tais serviços, dependemos da comunidade profissional para conseguir emprego ou orientação vocacional, conselho para as relações domésticas, ajuda para problemas psiquiátricos e muitas outras necessidades.
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O A.A. não dá assistência financeira, alimento, roupa nem alojamento a bebedores-problema. Mas existem boas entidades profissionais e outros meios dispostos a ajudar um alcoólico que tenta sinceramente parar de beber.
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Necessitar de uma mão amiga não é sinal de fraqueza nem motivo para vergonha. O “orgulho” que nos impede de aceitar o apoio encorajador de um bom profissional é falso. Quanto mais amadurecido a gente se torna, mais se dispõe a aceitar a melhor orientação e ajuda possíveis.
Examinando as “histórias” de alcoólicos recuperados, podemos claramente ver que todos nos beneficiamos, numa ocasião ou noutra, dos serviços especializados de psiquiatras e outros médicos, enfermeiros, orientadores, assistentes sociais, advogados, religiosos e outros profissionais. O livro básico do A.A. “Alcoólicos Anônimos” recomenda especificamente (página 86) que se procure ajuda. Felizmente, não encontramos conflito entre as idéias do A.A. e a competente orientação de um profissional com conhecimento especializado do alcoolismo.
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Não negamos que os alcoólicos já tiveram muitas experiências infelizes com alguns profissionais. Os não-alcoólicos, porém, como são muito mais, tiveram ainda maior número delas. Ainda está por nascer o médico perfeito ou o conselheiro espiritual ou o advogado que não cometa engano. E, enquanto houver gente doente no mundo, é provável que jamais deixem de existir erros no tratamento.
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Com justiça, temos de confessar que os bebedores-problema não são exatamente as pessoas mais fáceis de ajudar. Nós, às vezes, mentimos. Desobedecemos as instruções. E, quando saramos, culpamos o médico por não debelar mais cedo o dano que passamos semanas, meses ou anos nos infligindo. Nem todos pagamos as contas com presteza. E, continuamente, fizemos de tudo para sabotar o tratamento e a orientação para culpar o profissional. Era uma vitória barata e falsa, pois, no final, éramos nós que arcávamos com as conseqüências.
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Alguns de nós estamos conscientes, agora, de que nosso comportamento nos impedia de obter a boa orientação ou o tratamento de que realmente precisávamos. Um modo de explicar nossa conduta contraditória é dizer que era ditada por nossa doença. O álcool é astuto e enganoso. Pode forçar qualquer pessoa presa em seus grilhões a comportar-se de forma autodestrutiva, contrária à sua sanidade, juízo ou aos seus legítimos desejos. Não premeditamos prejudicar a saúde. Nossa dependência do álcool apenas se protegia contra as incursões dos agentes da saúde.
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Se, apesar de estarmos sóbrios agora, ainda tentamos dar palpites contrários à orientação de autênticos profissionais, isso pode ser um sinal de aviso. Será que o alcoolismo ativo está tentando infiltrar-se de novo em nós?
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Em alguns casos, as opiniões e recomendações conflitantes de outros alcoólicos recuperados podem dificultar ao novato a procura do necessário auxílio profissional.
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Assim como quase todo mundo tem um antídoto favorito para ressaca ou remédio para resfriado, quase todas as pessoas que conhecemos têm seus médicos preferidos ou menos queridos.
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Naturalmente, é prudente sacar do grande banco da sabedoria acumulada dos alcoólicos bem assentados na recuperação. Mas, o que dá certo para outros, não é necessariamente o que funciona para você. Cada um tem de aceitar sua responsabilidade final por sua própria ação ou inação. Isso depende de cada indivíduo.
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Depois de ter examinado as diversas possibilidades, consultado amigos, considerado os prós e os contra, a decisão de conseguir e utilizar a ajuda profissional, em última instância, é sua. Tomar ou não tomar Disulfiram (Antabuse), fazer psicoterapia, voltar à escola ou trocar de emprego, submeter-se a uma operação, fazer regime, deixar de fumar, seguir ou ignorar os conselhos do advogado a respeito de seus impostos – todas estas são decisões suas. Respeitamos seu direito de toma-las e de mudar de ideia quando os acontecimentos assim lhe permitirem.
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Naturalmente, nem todos os médicos, psicólogos, homens de ciência concordam exatamente com tudo que está exposto neste livro. Isso é perfeitamente normal. Como é que poderiam? Afinal, eles nunca tiveram a experiência pessoal, de primeira mão, que acumulamos com o alcoolismo, e pouquíssimos encontraram tantos bebedores-problema durante tanto tempo quanto nós. Nem nós dispomos da educação profissional e da disciplina que os preparou para suas tarefas.
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Isso não quer dizer que eles estejam certos, e nós errados, ou vice-versa. Nós e eles temos papeis e responsabilidades inteiramente diferentes na ajuda aos bebedores-problema. Que você possa ter, nesses aspectos, a mesma boa sorte que nos sorriu a tantos. Centenas de milhares de nós somos profundamente gratos aos inúmeros profissionais de ambos os sexos que nos ajudaram ou tentaram fazê-lo.
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